sábado, 31 de julho de 2010

UMA CENA-CHAVE DE "SÓ VOCÊ".


                                                                                                                                                                    
 Os mais chegados sabem que sou aficcionado pelos 50’s. Eles também sabem que tenho uma sinopse de uma novela chamada “Só Você”, uma novela jovem que narra o último ano de colégio de uma animada turma, com seis capítulos prontos e escritos durante o curso que fiz com Margareth Boury em 2007 e, portanto, sob sua supervisão. E que esse projeto de novela, que venho escrevendo, alterando e acrescentando elementos desde criança, é um apanhado de muitas referências dessa época que conviveram comigo durante minha vida toda, como as televisivas “Bambolê”, “Estúpido Cupido”, “Anos Dourados” e “Hilda Furacão” e filmes como “Juventude Transviada”, “Sabrina”, “West side story”, “A primeira transa de Johnatan”, até “Porky’s”, mas tendo “Grease” como inspiração maior. Enfim, já até postei aqui uma cena da novela que servia apenas para ambientar a época: um animado chá de senhoras da sociedade.

A cena que vou postar a seguir, mais do que retratar a época, serve para revelar ao espectador o estopim que vai gerar todo o conflito do casal protagonista. Sem medo de abusar do melodrama, afinal novela boa é novela que emociona e arrebata a torcida do público, por isso recorri mais uma vez ao bom e velho “Romeu e Julieta”, com direito a segredos e revelações de família. Veremos Sueli, camareira do famoso cabaré de Madame Antoinette, mãe de Gustavo, rapaz pobre e mocinho da trama, contando à patroa sobre o desastroso jantar da noite anterior em que, levada pelo filho, foi conhecer a família da namorada dele, Roberta, moça rica e grande heroína da trama, que vai sofrer uma grande virada mais tarde.

Aqui, Antoinette tem a função de orelha, ou seja, aquela que vai basicamente ouvir o relato de Sueli e auxiliar no andamento da cena de modo que as informações a serem contadas possam fluir naturalmente sem que a cena fique forçada ou excessivamente didática. Pelo menos foi o que tentei. Não sei se consegui. Confiram:

CAP 4. CENA 16. CABARÉ. CAMARIM. INTERIOR. DIA.


ANTOINETTE ACALMA SUELI.

ANTOINETTE — Já está melhor, minha amiga?

SUELI, AINDA CHORANDO, FAZ QUE SIM COM A CABEÇA.

ANTOINETTE — Seja lá o que for, você sabe que pode contar comigo, né? Fica à vontade. Pode desabafar se quiser.

SUELI — Madame, muito obrigada! A senhora é um anjo. Eu preciso mesmo desabafar com alguém.

ANTOINETTE — Sou toda ouvidos.

SUELI — O destino me pregou uma peça. E o meu filho é que tá pagando pelo meu passado.

ANTOINETTE — Não tô entendendo nada. Qual deles?

SUELI — O Gustavo. Ele arrumou uma namoradinha nova, a Roberta. E parece que dessa vez ele se apaixonou de verdade.

ANTOINETTE — C’est magnifique! Qual é o problema?

SUELI — O problema é que ela é a última garota por quem ele devia ter se apaixonado. Ela é da família dos meus antigos patrões.

ANTOINETTE — Sei, menina rica. Os pais estão proibindo.

SUELI — Não é isso. Ela é filha de Leonor Lucchesi, a mulher que o Nelson largou pra casar comigo.

ANTOINETTE — Mon dieu! Não acredito!

SUELI — Pode acreditar, amiga. A Leonor tava de casamento marcado com o Nelson e eu era empregada da casa. O Nelson era muito sedutor e eu era muito nova ainda. Me deixei levar. Acabei me apaixonando também.

ANTOINETTE — Já até sei onde essa história acabou. O rapaz largou a moça às portas do altar e fugiu com você.

SUELI — Eu acabei engravidando. O Nelson tava realmente apaixonado por mim. Imagina, ele largou tudo: luxo, riqueza e foi ter uma vida simples comigo.

ANTOINETTE — Nasceram os filhos /

SUELI — A paixão acabou e o cretino passou a me culpar por ter acabado com o casamento dele. Sumiu no mundo. Nunca mais ouvi falar dele.

ANTOINETTE — Que história!

SUELI — Que eu pensei que tivesse morta e enterrada. Até a noite de ontem. O Gustavo, todo feliz, levou a gente pra jantar na casa da menina. A senhora pode até imaginar a reação da Leonor quando me viu, né?

ANTOINETTE — Também não é pra menos. Coitada dessa mulher. Imagina, anos depois a mulher que roubou o marido dela aparece assim no meio da sala.

SUELI — Eu não tiro a razão da Leonor. Acho que se fosse comigo eu ia perder a cabeça também. Eu não tô triste por mim. Nem me lembrava mais dessa história. Eu tô arrasada por fazer o meu filho sofrer.

ANTOINETTE — Que ironia do destino. (RI) E o pior é que nenhuma das duas ficou com o safado.

SUELI — A vida tá cobrando o que eu fiz.

ANTOINETTE — Deixa de besteira, mulher! Não vou negar pra você que é realmente uma falta de sorte. Mas ninguém é punido por se apaixonar.

SUELI — E agora, o que é que eu faço?

ANTOINETTE — Levanta essa cabeça e ajuda o teu filho! Eu sempre te admirei porque você é uma mulher de fibra, nunca fugiu da luta. E não vai ser agora que vai fugir.

ANTOINETTE ABRAÇA SUELI COM CARINHO.
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Quem ainda não leu outras cenas minhas já postadas aqui, seguem os links:

"SÓ VOCÊ": Elegante chá de senhoras nos 50's -> http://euprefiromelao.blogspot.com/2010/01/elegante-cha-de-senhoras-nos-anos-50.html

FLOR DE LÓTUS: http://euprefiromelao.blogspot.com/2010/05/flor-de-lotus.html
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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Gilberto Braga: a cereja do bolo de aniversário do melão!!!

                                                                                                       
Sobre a telenovela: "É a única chance do espectador médio ter contato com emoção". (Gilberto Braga)



Sim, meus queridos leitores! Não poderíamos ganhar melhor presente. O nome Gilberto Braga dispensa qualquer apresentação. Seu nome já se tornou sinônimo de excelência em nossa teledramaturgia e referência absoluta pra qualquer pessoa que aspira a escrever telenovela. E mesmo atribulado com os primeiros capítulos de sua próxima novela em parceria com Ricardo Linhares, “Insensato Coração”, Gilberto teve a gentileza e a delicadeza de responder umas breves perguntas exclusivamente para nós. Dentre as breves, mas concisas e precisas respostas, o autor nos revela que ensaiou escrever uma minissérie a partir de “Ligações Perigosas”, sobre a influência da música em seu processo de criação, da contribuição de Aguinaldo Silva para a mítica “Vale Tudo”, entre outros assuntos. Curta, breve, mas deliciosa entrevista. Sim, Posso ficar todo prosa... Gilberto Braga também prefere melão...rs!





 

1) O que podemos esperar de sua próxima novela, “Insensato Coração”? Quanto menos esperarem melhor pra não se decepcionarem.

2) Suas minisséries são sempre antológicas e marcantes. Pensa em escrever outras? Se sim, já tem alguma ideia em mente? Não tenho. Gostaria de ter uma idéia bacana como Anos Dourados e Anos Rebeldes. Ainda não tive. Tentei desenvolver uma a partir de Ligações Perigosas do Laclos, mas estava saindo imoral demais, talvez perniciosa, achei melhor desistir. Fico esperando surgir a idéia, não é fácil.


3) A alpinista social talvez seja sua personagem mais recorrente e nenhum outro autor escreve tão bem esse tipo quanto você. Por que essa recorrência e o que acha que mais fascina o público a respeito delas? É que eu conheço essas mulheres. O fascínio sobre o público deve ser pelo mesmo que sinto, elas são divertidas demais.


4) Como foi a parceria com Aguinaldo Silva em “Vale Tudo”? O que você destacaria como a grande contribuição dele para a novela estilisticamente falando? Contribuição total. Ele fazia as escaletas, que são a alma da novela, em termos técnicos. E alguns personagens acabaram sendo mais dele do que meus, como a Raquel (Regina Duarte) e seu grupo. Aguinaldo é um autor mais popular do que eu, por isso, acho, Vale Tudo fez tanto sucesso.


5) Alcides Nogueira e Ricardo Linhares foram seus parceiros mais recentes em “Força de um desejo” e “Paraíso Tropical”, respectivamente. Quais as dores e delícias de se criar uma historia em parceria? Eu já não seria mais capaz de escrever qualquer coisa sozinho. Nem que fosse pela companhia. Meu ídolo Billy Wilder sempre escreveu com um colega.


6) O que o motivou a publicar o roteiro de “Anos rebeldes”? Interesse do editor, o Paulo Rocco. Ele achava que há um público para o livro que fizemos.

7) Você já declarou que a música está sempre presente em sua vida. Ela o inspira muito no processo de criação? Alguma canção já o inspirou a criar algum personagem, por exemplo? O melhor exemplo é Isto aqui o que é? do Ari Barroso, para criação da Raquel de Vale Tudo. E Brasil, do Cazuza para a temática geral da mesma novela.


8) Alem de sua conhecida paixão por cinema, você também é fã de séries? Quais suas favoritas?
De longe Sex and the city.


9) O que o Gilberto Braga faz nos momentos em que não está trabalhando? Eu confundo lazer e trabalho, não separo. Estou sempre trabalhando. E no trabalho tento me divertir, na medida do possível.


10) Na sua opinião, qual o papel da telenovela na vida do brasileiro? É a única chance do espectador médio ter contato com emoção. A vida do brasileiro é muito dura.


Obrigado, Gilberto! Papo rapidinho, mas saboroso, não acham?
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sexta-feira, 16 de julho de 2010

O Melão entrevista o criador do Melão: Vitor!


Por Wesley Vieira


Vitor e Melão. Ou Melão e Vitor? Tanto faz a ordem, afinal ambos se tornaram únicos e especiais. Na verdade, acredito que eles se confundem. E tudo começou há exatamente um ano, no dia 16 de julho de 2009, quando entrava no ciberespaço o “Eu Prefiro Melão”, mais um blog sobre televisão. Ops... mais um blog não! Trata-se de “O” blog, que em menos de um ano já coleciona vários admiradores, fãs, seguidores e muito, mas muito prestígio. Além da escrita primorosa, os leitores do Melão sentem o amor pela teledramaturgia que Vitor passa em seus textos. Em tudo há dedicação e muita cumplicidade. A razão disso tudo é simples: Vitor ama o que faz e só por isso tudo, podemos dizer que o Melão “bomba” por conta do talento desse incrível amigo. Quem conhece Vitor sabe o que estou falando. Muito trabalho, correria e perseverança, afinal quem acredita sempre alcança e ele alcançou! (Mistério!) “É muita luta, meu amô” – brinca ele fazendo alusão à Lígia (Betty Faria) na novela Água Viva (1980). Outro fator importante foi a credibilidade que o blog conseguiu desde a entrevista do nosso querido padrinho Alcides Nogueira, o Tide. Depois disso, o “ibope” foi às alturas e todos agora preferem Melão: Renatinha, Vivian, Duca, Thelma, Aguinaldo e mais alguns que vêm por aí... Pensando em homenagear o aniversário do blog, eu, Wesley, juntei alguns amigos QUERIDÕES (Daniel Pepe, Duh, Dog, Thiago, Walter Cerqueira e seu xará Azevedo, Eddy, Alladin, Ivan, Carlos e a participação especial de Tide) e elaboramos uma entrevista com o intuito de conhecer a alma do criador do Melão. Como colaborador do blog, tomei a liberdade de fazer essa homenagem e convido todos a viajarem por esse universo maravilhoso que é o Melão. Ou seria o universo do Vitor? Ah, tanto faz, afinal ambos se confundem... Divirtam-se!


Como começou o seu sonho de ser autor de novelas? (Ivan)
Ivan, meu amigo, acho que você é um dos que acompanham mais de perto esse sonho, mas ele vem de looonge. Acho que esse sonho existe desde que me conheço por gente. Sou telespectador precoce e as novelas sempre me fascinaram. Minha criação foi diante da TV e desde que aprendi a ler e escrever, criava histórias. Minhas primas sempre dizem que eu acabava com todos os cadernos da casa. Sempre escrevi o que chamava de novelas retratando o universo familiar, escolar, do bairro em que morava. Todos viravam personagens de minhas histórias. Dava nomes artísticos para eles com seus respectivos personagens. Loucura total! Depois todos liam e até encenavam às vezes... rs! Tenho vários desses cadernos guardados. Morro de vergonha, mas também tenho um carinho muito grande por eles, pois são verdadeiros diários, documentos de acontecimentos da minha vida. Muito tempo mais tarde, quando comecei a ler a respeito e a fazer cursos, percebi que o que eu escrevia e chamava de novelas com mais de 100 capítulos era muito parecido com o que chamamos de escaleta, que é a descrição das cenas sem os diálogos. Logicamente que procurei somar técnica a essa minha vocação natural com os diversos cursos que fiz.

Vítor, o que efetivamente te levou a criar o blog "Eu prefiro Melão", e, claro, o porque desse excêntrico e irreverente nome? (Walter Cerqueira e Duh)
Sou blogueiro de longa data. Tinha com o Carlos um blog de conteúdo geral chamado “Aqueles dois” e tenho até hoje um blog de cinema chamado “Cinema, etc – O Vitor viu...” Daí percebi que não tinha um veículo para falar sobre meu assunto favorito e sentia necessidade de falar para um número maior de pessoas do que há nas listas de discussões e comunidades das quais fazemos parte. Daí a ideia do blog. O nome é uma homenagem ao Cassiano Gabus Mendes. Faço uma alusão à famosa fala de Dom Lázaro Venturini (Lima Duarte) em “Meu bem meu mal”, que após sofrer um derrame e ficar meses sem falar, ao ser perguntado pela enfermeira se preferia mamão ou melão dá essa resposta para surpresa dela e do público. Acho que muita gente que viu essa cena já imitou o Dom Lázaro com boca torta e tudo dizendo “eu prefiro melão”... rs!

De que forma pessoas como você, que tem nato a arte de escrever e escreve desde pequeno, pode se preparar para entrar nesse almejado, mas tão difícil, mundo de roteirista? (Carlos)
Principalmente definir um foco, um objetivo e segui-lo até o fim, pois a arte de escrever é um conceito muito amplo. Alguns têm aptidão para escrever romances, contos, crônicas, mas não tem o interesse, nem o talento para serem roteiristas. Outros dominam como ninguém o texto acadêmico e almejam enveredar por essa área. Outros possuem todas essas aptidões e mais algumas... rs! Como ingressei na carreira acadêmica e tenho um mestrado para concluir, felizmente consegui juntar o útil ao agradável: minha paixão por novelas e minha carreira acadêmica. Além de roteirista, também sou professor e gosto muito dessa profissão. Com o título de mestre em Linguistica Aplicada com projeto sobre teledramaturgia, acredito que estarei habilitado também a ministrar cursos na área de roteiro, algo que também me interessa bastante. Para a carreira de roteirista especificamente falando, acho que a preparação é estar sempre ligado em tudo: ler, assistir a muitas novelas, filmes, séries, sempre se reciclar, estar de olho nas oportunidades e, principalmente, tentar criar um “network”, pois contatos com pessoas nessa área são fundamentais. Até do “Video Game” da Angélica eu já participei... kkkkk!

Você foi um dos primeiros a participar – com louvor, diga-se de passagem – do Vídeo Game, nesse novo formato com anônimos. Qual as suas impressões do jogo? E como você, fã de dramaturgia, avalia o baixo nível entre os últimos concorrentes, visto que a coisa anda meio nivelada por baixo, nas últimas jogadas? (Eddy Fernandes) Obrigado, Eddy! Eu adorei ter participado e como o nosso dia de gravação foi o primeiro tudo era ainda meio desconhecido. Sou muito tímido e pensei que fosse ficar nervoso na hora, mas que nada! Apesar de super rápido, foi uma experiência deliciosa. Sempre quis participar de um programa de perguntas e respostas, ainda mais num programa sobre televisão. Enfim, amei tudo: amei ter vencido, amei ser elogiado pela Angélica e pela equipe, amei os prêmios, os quais faço bom uso até hoje, diga-se de passagem e amei ter feito parte de uma atração da TV Globo. Com tanta coisa boa, até sublimei os micos...rs! Uma coisa muito legal também é que fiz muitos amigos. Os ex-participantes criaram uma comunidade no Orkut e já promoveram vários encontros, todos muito animados. Nós nos auto-denominamos Ex-VGB’s (Video Gamers Brasil...kkkk). Quanto à baixa qualidade dos atuais participantes, é normal, pois como são seis participantes por semana, fica cada vez mais difícil encontrar novos telemaníacos, mas conheço alguns queridões que ainda não participaram e que, com certeza, iriam arrasar, inclusive você!

No decorrer deste último ano, o “Melão” se tornou referência para os interessados em dramaturgia e um link entre grandes autores e seu público. Em algum momento, você imaginou que o “Melão” tomaria essa proporção? (Duh)
Sinceramente, não esperava mesmo. Achava que ele fosse ficar restrito ao nosso círculo de amigos e acho que até agora não caiu a ficha. Quando se tem um blog, a gente mede muito a repercussão pelo número de comentários, mas eles não reproduzem a verdade dos fatos. Muito mais gente entra sem comentar. Só quando instalei um contador de visitas tive essa noção. O melão é acessado diariamente de todos os continentes (!!!). Fora isso, ele ganhou um prestígio muito grande pra quem gosta do assunto. Já cheguei a ser reconhecido em Sâo Paulo durante um evento por várias pessoas. No lançamento do livro da Gloria Pires também vieram falar comigo. Sou praticamente uma sub-celebridade... kkkkkk! Mas sério: sei que devo muito a vocês, meus grandes amigos, companheiros de listas e comunidades e leitores fieis, pela participação, pela divulgação e principalmente por tanta força e por tanto carinho que me deram durante esse 1 ano de existência do melão.

Como o sucesso do Melão pode influenciar e incentivar a formação de novos autores? Como você se sente em relação a esse papel? (Walter de Azevedo)
Nunca pensei sobre isso e nem sei se o Melão tem esse papel. Acho que não só o meu blog, como o de muita gente, é a prova de que se tivermos algo bom a dizer, vamos encontrar público para isso. Nesse sentido, o ciberespaço é bastante democrático e permite que qualquer pessoa possa ter um canal de comunicação sem depender de nenhum contexto institucional. Se meu humilde blog porventura possa servir de inspiração para alguém, fico felicíssimo.

Equilíbrio no mundo das telenovelas é tudo. Uma história com boas dosagens de humor, drama, ação e bons diálogos é tida como muito boa. Mas, recentemente, tivemos um belo exemplo de desequilíbrio: às sete tivemos "Caras e Bocas", de Walcyr Carrasco, que nos brindou com muita agilidade mas pecou pelo texto precário e insistência no humor pastelão. E às oito, tivemos "Viver a Vida", trama de Manoel Carlos com uma excelente premissa alcançada (superação), ótimos diálogos mas que se arrastou pela falta de folhetim declarada. Na falta de um consenso entre os elementos que funcionam na telenovela, o que você prefere? Uma trama cheia de acontecimentos, ágil, mas sem texto, ou uma novela com diálogos muito bem trabalhados, mas sem tanto "conflito'? Responda como roteirista e como telespectador! (Thiago Henrique)
Acho que tanto como roteirista ou como espectador a resposta é a mesma. Gosto de novelas em que os personagens conduzem a trama e não o contrário. Gosto de personagens ricos, densos, humanizados. Sempre me incomoda quando um personagem muda de comportamento para atender aos interesses da trama. Por isso, tenho uma queda por bons diálogos.

Vitor quais os autores que você mais se identifica? (Ivan) Acho que Gilberto Braga é o mestre de todos nós. Me identifico totalmente com seu texto ágil, com a humanidade de seus personagens, com a temática do alpinismo social, com os barracos deliciosos, com o novelão chique, enfim, pra mim o pior de Gilberto ainda vai ser melhor do que o melhor de muita gente...rs! Mas amo o texto do Maneco, a comédia do Sílvio, o requinte do Alcides, gosto do Aguinaldo que escreve pensando nos atores. Entre os falecidos, gostaria muito de ter assistido a uma novela de Janete Clair, que é o Machado de Assis da teledramaturgia. Até hoje ela é modelar pra muita gente em atividade. Felizmente pude conferir obras deliciosas de Ivani, Dias e Cassiano.

Qual tema ainda não explorado em novelas você acharia interessante que fosse abordado? (Daniel Pepe)
Difícil dizer com precisão, afinal nossas novelas têm falado sobre quase tudo, mas confesso que como espectador sinto falta de ver na tela algum personagem gay que fugisse do estereótipo afeminado ou que não ficasse aprisionado no rótulo “melhor amigo gente boa”. Gostaria que fosse mostrada uma relação gay como qualquer outra,com qualidades, defeitos, traições, todo o tipo de atitudes e sentimentos inerentes a qualquer ser humano. Nem clown, nem santo, nem vilão. Um que gostei muito foi o Beni, de “Queridos amigos”, vivido magistralmente por Guilherme Weber. Apesar de exalar cinismo, o personagem mostrou uma humanidade muito grande.

Quando você escreve seus personagens você vai imaginando os atores em cena? Ou simplesmente escreve? Ou só depois de já escrito você imagina alguém? (Rodrigo Dog)
Normalmente eu escrevo pensando em pessoas reais que conheço, mas já aconteceu de eu escrever algumas vezes pensando em algum ator ou atriz. Como a Betty Faria é minha atriz favorita, sempre que escrevo alguma coisa tento criar uma personagem especialmente pra ela. Quem sabe um dia esse sonho não se transforma em realidade? Rs...


Nos últimos tempos, a televisão brasileira vem se imbecilizando, devido à guerra de audiência e as absurdas normas do MP. Você sempre se mostrou inconformado com esta situação. Acha que os profissionais da nossa televisão andam preguiçosos, distante dos gênios dos anos 70 que burlavam a ditadura e ainda ironizavam com ela, ou o público é que se tornou menos exigente com o passar do tempo? (Duh)
Acho que é um conjunto das duas coisas. Falei um pouco sobre isso em um artigo que escrevi para o site da Associação dos Roteiristas. Falta ousadia. As emissoras não estão dispostas a comprar a briga e mesmo os novos autores que surgem são obrigados a seguirem uma espécie de receitinha do “politicamente correto”. Isso é muito nocivo à criação. Também há o fato de que o público ficou muito menos exigente. Tudo que exige uma dose de reflexão um pouco maior afugenta o espectador médio. Não tenho dados para declarar isso, mas tenho a impressão de que grande parte do público reflexivo migrou para os canais por assinatura. Acho que é preciso uma nova quebra de paradigmas, algo que sacuda a ordem estabelecida.

Vitor Querido. O que você acha desses remakes que as emissoras insistem em produzir? Será que apostar em velhas histórias não é um retrocesso na teledramaturgia e impede que se mostre ao público novos autores e novas idéias? (Aladin)
Aladim, querido, acho que remake não é exclusividade das emissoras de TV. Volta e meia algum filme ganha uma refilmagem ou alguma peça ganha remontagem. Acho que isso vem da vontade de reviver algo bem sucedido e que traz boas lembranças. De fato, acho alguns remakes bastante desnecessários e redundantes. Mas há outros importantíssimos como os de Ivani, que deu a oportunidade a um público jovem assistir a grandes novelas a que ele nunca teria acesso. Gostei muito do remake que Maria Adelaide Amaral fez de “Anjo Mau” e boto muita fé em “Ti-Ti-Ti”, pois a autora se mantém fiel ao estilo de Cassiano, mas consegue atualizar muito bem as tramas. Não fica parecendo um Copy+Paste. Como tudo na vida, há os bons e os maus.


Televisão é apenas um veículo onde se pode trabalhar a dramaturgia. Você pensa em teatro, cinema, etc? E por que? (Carlos) Teledramaturgia é minha grande paixão, mas também adoro cinema e teatro. Sim, tive uma pequena incursão no cinema com o curta “Corra biba Corra”, que partiu de uma ideia totalmente despretensiosa, uma simples brincadeira entre amigos, que rendeu participações em alguns festivais e relativo sucesso na internet. Tenho alguns curtas escritos e registrados e gostaria muito de poder filmá-los um dia. Teatro também me interessa bastante. Há dois anos criei um esquete em parceria com Carlos Carvalho e Fellipe Carauta chamada “O que terá acontecido a Nayara Glória?” que foi selecionado para um festival de humor aqui no Rio e foi muito gratificante toda a experiência, inclusive os ensaios e o contato com as atrizes, já que também dirigimos amadoristicamente o esquete. Tenho uma peça escrita chamada “Mãe” e, assim que a correria do Mestrado permitir, vou tentar uma leitura dramatizada. Acho fundamentais essas leituras para autores inexperientes como eu antes da montagem. É muito importante ouvir opiniões de quem está há mais tempo no ramo e mais familiarizado com o veículo.

Se fosse pra escolher uma obra literária qual você adaptaria? (Rodrigo Dog) Não tenho muito essa vontade de adaptar obras literárias, mas o universo clariciano me fascina bastante. Adaptaria alguns contos dela como “Felicidade clandestina” ou “O primeiro beijo”, que são puro lirismo.

Como é seu método de trabalho? Você tem o hábito de fazer as escaletas ou tudo vem por conta de sua inspiração e sem tanto planejamento? Ou então, uma mistura de todos? (Daniel Pepe)
Engraçado responder a essa pergunta e também perigoso, pois não quero parecer nem pretensioso, nem arrogante, uma vez que ainda não sou um autor consagrado com vasta experiência e inúmeras novelas no currículo.Estou há léguas disso ainda....rs! Mas claro que até os principiantes possuem um método de trabalho, nem que seja para seus próprios exercícios. Normalmente até quando escrevo sozinho gosto de fazer escaleta porque me ajuda a ter uma visão geral do capítulo. Já tive a oportunidade de escrever o início de uma novela em conjunto e nesse caso então a escaleta é fundamental, já que é ela quem vai guiar e apontar como os diálogos devem ser escritos. Mas antes mesmo da escaleta, gosto de fazer uma espécie de trilha, que seria a trajetória dos personagens durante um determinado número de capítulos. Se for uma série, é preciso essa trilha para definir o arco da temporada, ou seja, de que forma os personagens começam e de que forma eles irão terminar. Isso me auxilia a ter uma visão global da história.

Tive acesso a alguns trabalhos teus. Adorei "Balada da Indelicadeza" e "Corra, Biba, Corra". Você se sente mais à vontade no drama ou no humor? (Thiago Henrique)
Uau. Gostou mesmo, Thiago? Que honra... rs! “Balada da indelicadeza” é um conto que escrevi na faculdade altamente auto-biográfico que depois em parceria com Patricia Mess virou um roteiro de curta chamado “Hoje eu quero sair só” e é super dramático. Já “Corra Biba Corra” considero uma grande bobagem coletiva, cuja autoria não pode ser creditada somente a mim. Sinto-me à vontade nos dois gêneros, mas acho que tenho uma quedinha pelo drama.

De tudo o que você já acompanhou na televisão brasileira, o que lhe desperta saudades e o que você adoraria ver esquecido nos arquivos para todo sempre? (Duh)
Saudades do humor do Cassiano, que unia ótimo texto com situações engraçadas. Saudades da anarquia politicamente incorreta de programas como TV Pirata e Armação Ilimitada. Gostaria que todos os programas de auditório sensacionalistas e apelativos fossem esquecidos e banidos para todo o sempre.

A Melhor Peça de Teatro. A Melhor Novela. O Melhor Filme. Não sua opinião. (Rodrigo Dog)
Nossa, dificílimo isso... rs! Tem algumas peças de teatro que me emocionaram: “Eu sou minha própria mulher”, com o Edwin Luisi, “Ópera do Malandro”, “Gota d´água”, “Toda nudez será castigada”, "Shirley Valentine" com Betty Faria me comoveu muitíssimo... Lógico que estou esquecendo muitas... rs! Agora, há um texto teatral que li, que me arrebatou e me emocionou muitíssimo que foi “Lua de Cetim”, do Alcides Nogueira. Espero um dia poder assistir a alguma montagem dessa peça. Não sei se é a melhor novela, mas “Tieta”, de Aguinaldo Silva, foi a que mais gostei até hoje. Ainda na linha afetiva, também gosto muito de “Bambolê”, do Daniel Más, pois além de me remeter a uma época feliz da minha vida, tenho um fascínio especial pelos anos 50. Mas “Roque Santeiro” e “Vale Tudo” não podem ficar de fora de qualquer lista que se preze. Com relação a filmes, a coisa se complica ainda mais, pois amo milhares, desde os Almodovars e Allens da vida até Grease, por exemplo. Mas pra ficar com um, escolho “O baile” (Le bal) de Ettore Scola. Assisto a esse filme desde pequeno e não perco o encantamento por ele. A ação se passa completamente num salão de baile de Paris e são retratados vários bailes durante várias décadas contando a história recente da França do século XX. E o mais genial: o filme não possui uma fala sequer. Fico sempre fascinado. E o filme foi inspirado numa peça, que teve uma linda montagem no Brasil contando nossa história. Simplesmente genial.

Qual a matéria que você sentiu mais prazer em fazer pro Melão nesse um ano de existência? (Thiago Henrique)
Todas me deram muita satisfação, mas acho que a entrevista com o Alcides Nogueira é o meu xodó por inúmeros motivos. Primeiro, por ter sido a primeira entrevista que fiz na vida. Acho que ela proporcionou ao melão uma espécie de selo de qualidade, tenho a impressão que a partir dela o blog começou a ser encarado como maior seriedade e comprometimento com o universo televisivo. Além disso, acho que a qualidade da entrevista se deve muito à enorme generosidade e carinho do Tide, que respondeu lindamente a todas as perguntas. Se eu já era fã do autor, fiquei mais fã ainda do ser humano. Acho que, além das histórias deliciosas e da apaixonante trajetória de vida do entrevistado, ficou claro pra todo mundo que em cada passagem continha um afeto, uma cumplicidade e principalmente uma confiança muito grande entre nós. Tide deu muito mais do que eu pedi e o resultado ficou fantástico e me enche de orgulho. A entrevista também foi uma maneira que encontrei para agradecer a ele por todo o carinho que ele sempre manifesta. Tide é raro! Um verdadeiro rei. Quando crescer quero ser que nem ele! E graças a essa entrevista, foi possível realizar tantas outras ótimas entrevistas como a da Vivian, do Aguinaldo, da Renatinha, da Duca e da Thelma e espero que outros autores depositem no melão a confiança que estes depositaram. Mais um motivo: ainda é recorde absoluto de visitas e comentários. Minha gratidão eterna a Alcides Nogueira.

Que cena gostaria de ter escrito? (Rodrigo Dog)
A chegada de Tieta a Santana do Agreste, of course...


Teria coragem de fazer uma nova versão de Tieta? Que outros remakes gostaria de fazer? (Rodrigo Dog) Não teria coragem, nem vontade. Como considero Tieta uma novela perfeita, dificilmente saberia fazer algo diferente. Pra praticamente repetir o que já está feito é melhor não fazer nada. Impossível pra mim, conceber Tieta, Perpétua e Carmô que não fossem Betty Faria, Joana Fomm e Arlete Salles.


Como telespectador privilegiado (afinal, você conhece muitíssimo bem a história e os mecanismos das novelas, tem uma memória prodigiosa, e ESCREVE!!!) quais são, na sua opinião, os novos caminhos da teledramaturgia? O velho e bom folhetim continuará sendo a base sólida das boas tramas? (Alcides Nogueira) Tide, querido, não sei se sou merecedor de tantos predicados, mas vamos lá. Penso que sim. Mesmo que o telespectador de hoje não seja o mesmo espectador ingênuo dos tempos de Janete Clair e Ivani Ribeiro, e por mais que a sociedade se transforme, se modifique e anseie por novas temáticas, o bom e velho folhetim vai continuar reinando em nossas novelas, porque ele é a base de tudo. Note que até as séries americanas, que antes construíam histórias independentes a cada episódio, também estão adotando a estrutura folhetinesca, como “Desperate Housewives”, “Grey’s anatomy” e “Brothers and sisters”, que são verdadeiros novelões e sempre deixam ganchos para o episódio seguinte. Às vezes os ganchos sobrevivem até para as próximas temporadas. Por isso, acho que essa estrutura folhetinesca é a forma mais eficiente de prender o espectador, sobretudo nos dias de hoje em que tudo é tão variado e disperso. Assim como Sherezade sobrevivia ao sultão deixando sempre pra contar uma parte da história depois, a novela vai sempre usar desse expediente para sobreviver à audiência cada vez mais competitiva. Quanto aos novos caminhos da teledramaturgia, acho que pra continuar reinando absoluta na preferência popular, deve buscar uma linguagem mais ágil, fugir de clichês e fórmulas surradas e abordar assuntos do cotidiano das pessoas. As palavras-chave são ousadia e inovação. Um maior exemplo disso é “A favorita”, que foi a novela mais inovadora dos últimos tempos e a que mais mobilizou o espectador. Mas repare que ela inovou na narrativa ao não revelar de cara quem era a mocinha e quem era a vilã e manteve o suspense até certo ponto, mas não inovou na estrutura, que continuou folhetinesca, com ganchos eletrizantes, cenas pra lá de catárticas e abusando da emoção. Não sei se respondi bem, mas sinto esse fenômeno contraditório: a novela precisa inovar, mas ao mesmo tempo manter-se folhetinesca pra sobreviver.


Falar de si mesmo é algo complicado e chato, mas como é o Vitor pelo Vitor? (Wesley) Difícil mesmo...rs! Acho que sou uma pessoa comum cheia de qualidades e defeitos, mas que procura aprender sempre com as falhas. Sou impaciente, meio estúpido e infantil ás vezes, mas sei que sou uma pessoa amiga, que sempre veste a camisa e que ainda acredita na transformação. Como bom capricorniano, procuro ser focado, objetivo e determinado. Se tenho uma meta, não sossego até alcançá-la. Procuro sempre ser leal, ético e respeitar as diferenças, o que tão difícil às vezes...rs! Enfim, sou um alguém que acredita muito no sonho. São eles que nos movem para frente.

Querido Vitor, parabéns pelo aniversário do blog. Que ele seja cada vez mais acessado, interagindo com tanta gente maravilhosa. O Melão já é uma referência para os internautas que amam a teledramaturgia (e, ainda bem, é muita gente). Você pensa em continuar escrevendo um blog ou vai partir para um site, depois desse sucesso todo? (Alcides Nogueira)
Tide, querido, obrigado. Você foi um dos responsáveis por isso, já que foi depois de sua entrevista que o melão “turbinou” pra valer...rs! Por enquanto, penso em continuar com o blog, que serve aos meus propósitos, mas novas ideias são sempre bem-vindas. Confesso que sou “analfabyte” de carteirinha e caso fizesse um site precisaria de toda ajuda possível. Desde o início conto com a luxuosa e indispensável colaboração de pessoas queridas para essas questões técnicas. Aproveito pra agradecer ao Rafael Pinto (o diretor de “Corra biba corra”...rs!) por ter criado o primeiro layout do melão, à minha querida “noiva” Juliana Santos, por ter me dado de presente um banner intermediário e, finalmente, ao Felipe Ribeiro, responsável pelo layout recente e por todos os banners que são trocados quase que mensalmente. Como nunca ganhei 1 centavo pelo blog, tudo é feito na base do 0800. Também tem isso. O blog tem esse espírito mambembe que dá um certo charme, penso eu. Se fosse partir para o site, precisaria de mais parceiros, tanto para mais criação de conteúdo, afinal teria mais colunas e colaboradores fixos e também do ponto de vista comercial também para tornar a coisa profissional. E claro, alguém para construir o site, já que esse talento não passa nem perto de mim...rs!Quem sabe um dia isso não acontece... por enquanto sigo “meloniando” dentro das atuais capacidades do blog.

Quais as futuras pretensões do Melão que em 1 ano já realizou várias entrevistas, posts memoráveis e se tornou referência no mundo televisivo? (Wesley)
Obrigado, Wesley. Grande parte dessas conquistas não posso deixar de dividir com você, que é o colaborador mais constante, sempre generoso e cheio de talento. Bem, pretendo continuar oferecendo conteúdo próprio, de qualidade, bolar sempre coisas novas e contar cada vez mais com a ajuda de colaboradores. Quero que ele seja cada vez mais um espaço respeitado, de referência e um grande fórum onde todos que têm algo a dizer possam contribuir. O melão é nosso!!! rs...

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Olha só o Banner comemorativo de 1 ano de melão:



Parece que foi ontem, mas meu bebê hoje completa 1 aninho! E para festejar a data, FELIPE RIBEIRO, designer oficial do melão, criou esse banner que amei, que traz duas de nossas novelas mais representativas: VALE TUDO e ROQUE SANTEIRO!!! Obrigadíssimo, Felipe, por mais esse presente. E aí, curtiram?




terça-feira, 13 de julho de 2010

Melão Express: Rapidinhas, mas saborosas – Ed. 9

                                                                                                                                                            
IRENE RAVACHE: DESTAQUE EM "PASSIONE"

Irene Ravache genial como a perua Clô

Sílvio de Abreu provou na semana passada que ainda é imbatível no quesito humor. A sequência de cenas do jantar que Bete (Fernanda Montenegro) ofereceu a Clô (Irene Ravache) em “Passione” foi de longe a melhor cena da novela até agora, relembrando as inesquecíveis novelas das 7 que o autor escrevia nos anos 80. Além da situação maravilhosa e do contexto perfeito criado pelo autor, os atores, sobretudo Irene Ravache e Cleyde Yáconis deram um show em cena. Ficou perfeito o contraste entre a aristocracia e a cafonice. Aqui em casa e também pelo twitter gargalhadas gerais. Um momento delicioso e de grande inspiração. Está claro que “Passione” está sendo escrita para os veteranos brilharem. Merecia ser vista com mais atenção e ter uma audiência melhor.


> Ainda no quesito “gargalhadas” elas são abundantes ao assistir às reprises dos episódios de “Sai de Baixo” pelo Viva. A melhor parte do seriado quando Claudia Jimenez ainda fazia parte do elenco já foi exibida, mas o programa continua engraçadíssimo, sobretudo pelos cacos, pelos improvisos e pelas brincadeiras que Miguel Falabella fazia com Aracy Balabanian. O programa não envelheceu e continua hilariante.

>  Falando em “Viva” de quem foi a genial ideia de interromper bruscamente a programação para fechar a tela e exibir o aviso “Você está no Viva”? Por acaso, alguém assiste ao canal pensando assistir ao “Sex Hot” ou “Canal do Boi”? Cada uma...

> Da série “coisas que preferia não saber”: tem uma tal “mulher-arroto” que se intitula humorista do Penico, digo, Pânico na TV (só podia) que se passa por jornalista e surpreende os entrevistados com arrotos e flatulências (sim, chegamos nesse nível!). Ela deu a maior bola fora nessa segunda ao tentar fazer isso com a grande e respeitadíssima Laura Cardoso, mas felizmente foi impedida por pessoas de bom senso e convidada a se retirar do evento em questão, o lançamento em São Paulo da biografia de Glória Pires. Não há como ficar chocado com tremenda deselegância, falta de educação e falta de respeito. Ninguém merece passar por isso, muito menos Laura Cardoso. Que a imbecilidade é marca registrada do programa isso não é segredo pra ninguém. O que mais me surpreende é a quantidade de pessoas que acham esse tipo de coisa engraçadíssima. Gosto não se discute, se lamenta muitas vezes, mas o fato é que as pessoas não são obrigadas a serem usadas por um tipo de humor do qual elas não compartilham. Respeito é bom e todo mundo gosta.

> Há quem compare o Pânico com o CQC. Preferências à parte, acho que há um abismo qualitativo separando as duas atrações, seja pelo texto, pelo nível dos apresentadores e por toda a questão técnica mesmo. Mas li uma reclamação no Twitter de que o pessoal do CQC não passava de mauricinhos engravatados que recebem patrocínio de multinacionais. Pode até ser. Diante disso, cabe aqui duas indagações: 1) Nunca vi nenhum integrante do CQC tentar arrotar ou peidar na cara de alguém; 2) Pra ser bom tem que ser patrocinado pelo guaraná Dolly? Juro que não entendi...


> Evento imperdível pra quem é do Rio. O CCBB vai promover a partir do dia 27 “A história da telenovela”, que serão encontros com profissionais que fizeram e fazem a história das nossas novelas. E a primeira convidada é ninguém mais, ninguém menos que Regina Duarte. Maiores informações pelo link: http://www.bb.com.br/portalbb/page511,128,10156,1,0,1,1.bb?codigoEvento=3457  

> Curtiram a entrevista abaixo de Duca e Thelma? Foi só abre-alas para as comemorações do primeiro aniversário do melão. Vem mais coisa boa por aí! Não percam as cenas do próximo capítulo... até lá!
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sábado, 10 de julho de 2010

Entrevista especial: DUCA RACHID E THELMA GUEDES


Entrevistadas por Wesley Vieira e Vitor de Oliveira


Para a difícil, mas prazerosa função de entrevistar uma dupla de sucesso, nada melhor do que convocar um amigo de talento com as mesmas pretensões e que sempre está na mesma sintonia que eu: Wesley Vieira. O rapaz se diz um aspirante a roteirista, mas quem leu seus textos comprova que ele já está pronto para que alguma emissora invista em seu potencial. Nossa sintonia foi perfeita e harmônica desde o início de nossa amizade virtual, que já se tornou real.

Ninguém melhor que Wesley, com sua simpatia, inteligência e perspicácia para ser meu parceiro nessa tarefa de entrevistar as duas meninas, Duca e Thelma, que responderam às nossas perguntas juntas e separadas.


Autoras de dois grandes sucessos do horário das seis, “O profeta” (2006) e “Cama de Gato” (2009), as duas contam que a dupla foi unida por Walcyr Carrasco, além de relatarem suas experiências conjuntas e individuais, bem como o processo criativo, o futuro da telenovela, entre outros assuntos. Um tricô delicioso e envolvente. Confiram:

 
DUCA RACHID


Conte como foi o início de sua carreira? Você sempre quis trabalhar como roteirista de televisão? Encontrou dificuldades para entrar nesse mercado que é tão disputado e fechado? (Wesley)

DUCA - Eu sempre fui noveleira, desde criança. A minha geração cresceu vendo novela. Pra mim, uma jovem que vivia na periferia de São Paulo, onde não havia cinema nem teatro, a TV e os livros eram a minha janela para o mundo. Mas lembro de ter manifestado o desejo de fazer TV, vendo “Gabriela” do Walther Durst. Já tinha lido o livro e ver aquilo na TV foi quase que uma epifania! Fiz um caminho bastante tortuoso para chegar aqui. Durante a faculdade de jornalismo, montei uma produtora de vídeo com colegas, fiz institucionais e gravei até casamentos! Mas só comecei a trabalhar mesmo como roteirista em Portugal, onde morei por seis anos. Lá conheci um roteirista brasileiro, o Jayme Camargo, que estava montando uma produtora com um sócio português. Ele tinha projetos para a RTP e precisava de alguém que o ajudasse. Foi assim que eu comecei. O Jayme me ensinou os rudimentos do roteiro, e me permitiu errar muito e aprender com os erros. Com ele, escrevi séries infantis, juvenis, uma série gravada na África e até um sitcom, com a Tônia Carreiro e o Zé de Abreu, dirigido pelo Cecil Thiré. Infelizmente, nunca cheguei a ver nenhum desses dois programas.

Em 1993, você foi uma das autoras da novela portuguesa “A Banqueira do Povo”, baseada em fatos reais ocorridos na década de 80 e até hoje considerada uma das melhores novelas de Portugal. Como foi esse trabalho que teve Walter Avancini como um dos produtores? (Wesley)

DUCA - Pois então, de posse desses programas que tinha feito com o Jayme, fui procurar o Avancini que, na época, estava também montando uma produtora. Ele gostou do meu trabalho e me chamou para integrar a equipe da “Banqueira”, que era encabeçada pela escritora Patrícia Melo. Foi minha primeira novela e aprendi muito com a Patrícia e com o Maurício Arruda, que também fazia parte da equipe e já tinha feito muita coisa como colaborador do Carlos Lombardi. A “Banqueira” não era um folhetim tradicional. Mais parecia uma minissérie. Era uma história forte, sensacional! Representativa de como foi a passagem de Portugal, do socialismo ao capitalismo. Foi um trabalho duro, o Avancini era muito exigente. Mas era fascinante vê-lo trabalhar. Ele tinha sacadas geniais! Aprendi muito com ele. Sou muito agradecida ao Avancini, que sempre me chamava para participar dos seus projetos. Senti muito quando ele se foi.

Você foi uma das responsáveis pela adaptação do livro “Tocaia Grande” para a TV. Como foi contar com a supervisão de Walter George Durst? Houve dificuldades na realização desse trabalho num momento em que a Manchete passava por dificuldades financeiras e retomava a produção de telenovelas? (Wesley)

DUCA - Eu tive sorte, muita sorte, comecei pelas mãos de grandes mestres da teledramaturgia. O Dürst foi um deles. E o que mais me marcou. Não há um dia sequer na minha vida que eu não me lembre, que eu não recorra aos ensinamentos do Dürst. “Tocaia Grande” foi uma novela formadora pra mim. Aí sim, acho que entendi o que é fazer novela. E, além do Dürst, tive oportunidade de trabalhar também com o Marcos Lazarini e o Mário Teixeira, grandes autores e amigos. Quanto a trabalhar na TV Manchete, era ótimo! A família Bloch tinha um apreço muito grande pelas artes, pela literatura. Valorizava muito o nosso trabalho. E as dificuldades não foram maiores do que as que existem em qualquer produção. “Tocaia Grande” reinaugurou a teledramaturgia da Manchete e abriu espaço para grandes sucesso como, por exemplo, Xica da Silva.


Ao escrever remakes de obras de sucesso como “Os ossos do barão” e “O profeta”, qual o limite entre preservar o estilo da trama original e imprimir um diferencial em relação a ela? (Vitor)


DUCA - O Dürst sempre dizia que adaptar “é trair por amor”. É claro que você tem que manter minimamente a história, mas sempre há mudanças que precisam ser feitas para estar de acordo com o contexto histórico em que a trama se passa, e também para “dialogar” com o público de hoje. “O Profeta” (foto) foi um exemplo claro disso. Originalmente a novela se passou na década de 70 e tivemos que adaptá-la para a década de 50. Por isso o protagonista (que teve o nome alterado para Marcos, pois já havia um Daniel no ar) teve que mudar. O Daniel da década de 70 era muito mais irreverente do que o Marcos, pois a irreverência estava em pauta, naquela época de grandes revoluções no comportamento. Outra coisa: o impedimento amoroso da história original, que era o fato do mocinho vender seus poderes, não era mais considerado como tal, pelo público atual. Ninguém entendia porque a Sônia não queria que o Marcos vendesse seus poderes. Desde que ele não prejudicasse ninguém, achavam que não havia nenhum mal nisso. Ou seja, o que era uma questão ética, moral, na década de 70, em 2000, deixou de ser. Então tivemos que criar um impedimento concreto para o amor de Marcos e Sônia; o Clóvis, um psicopata, que prendia a mocinha no sótão. Impedia o contato físico mesmo entre ele e ela.


Você esteve ao lado de Walcyr Carrasco na estreia dele na Globo com “O cravo e a rosa”. Como se deu esse encontro e que tal a experiência? (Vitor)

Adriana Esteves e Eduardo Moscóvis em "O cravo e a rosa" (2000)



DUCA - Pois é, quem me recomendou ao Walcyr, quando ele foi para a Globo, foi o Avancini. Mais uma que devo a ele. Na verdade, eu já conhecia o Walcyr, da minha passagem pelo SBT. Quando ele foi para a Globo, me chamou. E foi outro grande aprendizado trabalhar com o Walcyr. Um autor de um talento enorme, que conhece seu público como ninguém. E tem uma capacidade de trabalho invejável! Tudo isso sem perder o bom humor. Com o Walcyr aprendi, por exemplo, que, mesmo que a novela seja de época, ela tem que falar ao público de hoje.

Como é a sua rotina quando está trabalhando? A Duca como mãe e esposa é diferente da Duca autora de novelas? (Wesley)

DUCA - Não dá pra separar não. Tem quem ser mãe, esposa e autora de novelas, tudo ao mesmo tempo. É exasperante às vezes. Mas a vida não pára quando você faz novela. Os filhos crescem, os pais envelhecem, os amigos e parentes continuam sentindo a sua falta e solicitando você. Não tem jeito: quando a novela acaba, você se depara com milhões de coisas que ficaram pra trás e têm que ser feitas. Desde ir ao dentista, ao médico, ao cartório, ajudar a sua mãe na mudança, até reencontrar os amigos. A gente leva pelo menos uns seis meses botando a agenda em dia. Só então pode descansar e carregar as baterias para pensar na próxima.
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THELMA GUEDES

Você acredita que a sua formação acadêmica em Letras e o mestrado em Literatura Brasileira foram fundamentais para a sua entrada na televisão? Sempre pensou em escrever roteiros? (Wesley)

THELMA - Posso dizer que o tempo em que estive na universidade, tanto na graduação, quanto na pós, foi um dos momentos mais felizes e importantes da minha vida. Fundamental pra minha relação com a literatura. Desde criança, eu sempre li muito, mas indiscriminadamente e sem um olhar crítico. Na universidade, eu deixei de ser uma leitora ingênua. Isso é de grande valia para quem deseja se tornar escritor (seja qual for a natureza da sua obra). Quem quer ser escritor tem que ler muito mesmo. Mas não acho que seja imprescindível passar pela universidade. No meu caso, foi importantíssimo. A universidade me deu muita segurança. Eu adoro aprender, estudar. E escrever pra mim é como respirar! Mas nunca imaginei que escreveria roteiros e trabalharia em televisão, até que a oportunidade apareceu. Eu não deixei escapar. Meu grande sonho sempre foi, desde muito pequena, ser escritora, viver disso. Mas o meu primeiro roteiro foi o que enviei para a seleção da Oficina da Globo. E logo percebi que eu me sentia muito à vontade como roteirista.

Você entrou na TV Globo através da Oficina de Roteiristas que a emissora promove esporadicamente. Conte como foi o seu ingresso e a sua trajetória durante o tempo em que participou dos projetos até ser convocada como colaboradora na novela “Vila Madalena”. (Wesley)

THELMA - Eu estava terminando o mestrado em Literatura Brasileira, trabalhando na Editora da USP e prestes a lançar meu primeiro livro de contos, quando deparei com um aviso sobre a Oficina da Globo, no mural da universidade. A princípio, achei que era uma oficina comum, apenas para ensinar a técnica de roteiro. Não sabia que haveria uma seleção e que alguns seriam contratados. Eu me inscrevi para aprender a escrever roteiros e ponto. Sem ansiedade e pretensão. Participei de um processo seletivo pesado, em que de 700 inscritos, apenas três foram contratados. Me entreguei de corpo e alma a esse aprendizado, tendo que continuar a trabalhar e a terminar a pós. Foi uma loucura, mas quanto mais eu aprendia a técnica de roteiro, quanto mais eu escrevia, mas me apaixonava por esse jeito de escrever e me expressar. Nessa oficina, coordenada pelo Flavio de Campos, eu aprendi a base de tudo o que eu sei de roteiro de televisão. Eu devo muito a ele. Assim, em 1997, no mesmo dia em que recebi a notícia de que seria contratada, eu lancei o meu primeiro livro. No mesmo dia! Foi demais! Depois que eu entrei na Globo, fiquei um tempinho esperando um chamado para trabalhar. Foi ótimo, porque nesses quatro meses em que não trabalhei, eu consegui terminar de escrever a minha dissertação, entregar e defender. Depois fui chamada pra trabalhar no programa matutino da Angélica. E não parei mais, fui emendando um trabalho no outro. Um colega me indicou pra colaborar na novela do Negrão. Quando a novela acabou, eu corri atrás de um colega de oficina, que estava fazendo o texto final do programa do Renato Aragão, A Turma do Didi. Depois, trabalhei lendo livros e dando pareceres. Imagina que delícia ganhar para ler! Aí, eu conheci o Walcyr quando eu organizei umas palestras. Ele me chamou pra colaborar com ele no Sítio do Picapau Amarelo. Aí, eu colaborei direto com ele: Esperança, Chocolate com Pimenta e Alma Gêmea. Até ele me indicar com a Duca pro Profeta.


Sua incursão na literatura, já rendeu diversos livros, além de participação em coletâneas, como “Novelas, Espelhos e um Pouco de Choro” (Ateliê Editorial/ 1999). Você se considera uma escritora que virou roteirista ou uma roteirista que virou escritora? Algumas vezes, as idéias que você tem para um livro interferem na criação para uma novela? (Wesley)

THELMA - Eu me considero uma escritora. Escritores podem escrever livros, novelas de tv, roteiros de cinema, peças de teatro, etc. Roteirista é escritor. É como eu vejo. Na verdade, acho que o imaginário de um escritor, suas ideias, seus ideais, sua ideologia, seu modo de ver a vida, o que ele quer dizer pro mundo está em tudo que ele escreve: livro, roteiro, crônica de jornal, peça de teatro, qualquer coisa. Não acho que seja “interferência”, acho que é a “essência” da escrita de cada escritor, que passeia ente um ou outro gênero. Mas o que eu quero sempre é comunicar a minha visão de mundo. Ela está em todas as histórias que eu quero contar, seja nos livros ou na televisão.

Você faz parte da AR – Associação dos Roteiristas. Na sua opinião, qual a importância de entidades desse tipo para a valorização da classe? (Vitor)

Assembléia da AR - Associação dos roteiristas

THELMA - Em primeiro lugar, a associação tem um papel super importante, de permitir que a gente se conheça. Porque escritor é um sujeito que, até por força da profissão, acaba ficando muito isolado, solitário, fechado entre quatro paredes, sem contato com outros que fazem a mesma coisa que ele. A troca de experiências e o debate com os colegas é fundamental, mesmo no plano puramente artístico, estético. E claro que a união nos fortalece como classe! No começo da AR, eu tinha tempo para trabalhar muito pela associação, na sua divulgação, promovendo cursos, workshops, palestras, debates. Foi um momento muito interessante e feliz. Conheci muita gente e fiz grandes amigos.

Você foi colaboradora de Walcyr Carrasco em grandes sucessos do autor como “Alma gêmea” e “Chocolate com pimenta” (foto). Como é trabalhar com o autor e o que há de Thelma Guedes nessas novelas? (Vitor)

THELMA - Eu tenho uma tese sobre colaborar em novela: o melhor colaborador é aquele que, quando escreve, tenta escrever como o próprio autor escreveria. Colaborador é alguém que deve deixar o autor livre o máximo possível para escrever melhor e melhor. Acho essencial que se entenda esse limite entre escrever a própria novela e colaborar na novela de outro autor. Posso dizer com orgulho que nessas novelas do Walcyr o que tem de Thelma Guedes é o empenho de fazer o Walcyr ser o melhor Walcyr possível. Pra mim, o colaborador é um rede de segurança para que o autor possa se soltar. Eu era aquela colaboradora que me preocupava com a memória da novela, com a coerência das personagens, com a continuidade estrutural dela. Eu enchia o saco do Walcyr às vezes, quando achava que um capítulo não tinha o brilho que é próprio do Walcyr. Eu ajudava nos problemas de produção, na edição, quando o capítulo ficava grande. Tomando conta para que os ganchos não se perdessem, ou para que falas importantes não fossem cortadas. Eu era uma colaboradora que realmente colaborava. Porque eu não queria escrever a novela que não era a minha novela. Eu queria deixar o caminho livre pro Walcyr escrever melhor novela . Hoje eu estou do outro lado e espero dos nossos colaboradores exatamente isso. E temos muita sorte. Nossos colaboradores são os melhores que existem!!!


Como é a Thelma quando está trabalhando? Sua rotina muda em relação à família? (Wesley)

THELMA - Eu tenho a felicidade de ter total apoio do meu marido e das minhas enteadas (que são como filhas). Quando estamos no ar com alguma novela, a rotina é bem dura, eu fico 24 horas ligada no trabalho. Até dormindo eu sonho com a novela. Fico pendurada no computador, telefone, televisão. Quando trabalho em casa, o ambiente fica tomado pelo meu trabalho. Por isso mesmo, Duca e eu fazemos reuniões diárias num escritório fora de nossas casas, num escritório, num flat. Mas o que é bacana é que a minha familia compreende, respeita, incentiva, torce. E todos assistem religiosamente a novela que estou escrevendo. Meu marido, que é um intelectual e não assistia televisão antes, assiste tudo que eu faço, desde o primeiro programa infantil que eu escrevi.

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THELMA E DUCA

Como surgiu a dupla Duca e Thelma? (Vitor)

Thelma: O Walcyr Carrasco foi chamado para supervisionar o remake da novela O Profeta. E ele nos juntou para escrevê-la. O Walcyr é o culpado! RS

Duca: Coitado do Walcyr! Vai ter que espiar essa culpa pro resto da vida...


Vocês acham que esse esquema de parceria entre autores titulares pode ser uma nova forma de escrever novela num futuro próximo? Quais as maiores vantagens e desvantagens? (Wesley)

Thelma: Na criação não pode haver fórmula. A escrita em dupla, no mesmo pé de igualdade, com duas pessoas decidindo tudo, depende de uma sintonia muito grande, que não pode ser forjada. Ela existe ou não.

Duca: É isso aí. Podemos falar pela nossa experiência. No nosso caso, a gente tem se dado bem escrevendo juntas. Tem dado certo. Assim temos conseguido uma dinâmica que não sei se conseguiríamos sozinhas. Talvez sim, não sei... Mas acho que não é uma fórmula pra todo mundo não. E isso também não significa que a gente não possa trabalhar em separado, por um tempo. Pra depois se juntar de novo, rapidinho... (rsrsrsrs)


Até que ponto a supervisão de texto influencia no trabalho do autor? (Vitor)

Thelma: Se a supervisão influenciar, ela deixa de ser supervisão e passa a ser intromissão na obra alheia. O supervisor deve ser um apoiador, questionador, “alertador” para possíveis riscos que o autor está correndo. Pode e deve sugerir, mas sempre respeitando o universo e estilo do autor.

Duca: Pois é, o trabalho do supervisor é difícil porque tá nesse fio de navalha. O supervisor tem que se valer da experiência para te apontar falhas e dar dicas do que pode ser a melhor maneira de conduzir o trabalho. Mas tem que deixar que você escreva a sua novela. Não dá pro supervisor querer que você escreva a novela “dele”.


Como é a divisão de trabalho entre vocês e seus colaboradores? (Vitor)

Thelma: Nós duas costumamos nos reunir diariamente para bolar os acontecimentos da história e escaletar os capítulos. Os colaboradores escrevem as cenas. Depois uma de nós junta as cenas e faz uma edição (mudando, acrescentando, cortando). Em seguida, a outra lê e faz o texto final. Aí a gente manda pros colaboradores lerem, verem erros, fazerem criticas e darem ideias. Estamos sempre abertas para ouvir o que eles têm a dizer. Aproveitamos ideias. Às vezes, chegamos a reescrever, mudando o rumo das coisas por causa de uma sugestão ou crítica. Porque o que nos interessa é sempre o melhor produto.

Houve tentativas de emplacar sinopses de suas autorias antes de entrar para o hall de autores titulares da Globo? Receberam muitos “não”? (Wesley)

Thelma: Antes de O Profeta , a Duca era autora do Sítio do Picapau Amarelo. Já estava se aproximando dessa entrada no time de autores de novela. Mas eu confesso que não imaginava que isso pudesse acontecer tão logo pra mim. Por isso, apesar de ter escrito algumas sinopses pra minha gaveta, eu não as enviava para a direção, porque eu sabia que ninguém ia se interessar por elas ainda. A minha intenção era consolidar a carreira de colaboradora, para dar o próximo passo, no momento certo. O momento certo veio antes, naturalmente.

Duca: Eu já tinha sim, arriscado mandar algumas sinopses. Hoje posso avaliar melhor e saber que algumas precisavam ser retrabalhadas, talvez por isso não tenham sido aceitas. Mas valeu pelo exercício. E muitas das idéias daquelas sinopses podem ser reaproveitadas no futuro.

Como vocês, autoras dessa nova geração, veem a novela do futuro? Como seria a novela perfeita? (Wesley)

Thelma: Acho que a novela do futuro vai ter que se adequar às novas mídias que estão surgindo. Talvez mais curta, ágil e interativa. Mas acredito que esse gênero resistirá a todas as mudanças tecnológicas e comportamentais que estão por vir. Porque desde que o mundo é mundo, o homem adora e precisa de uma boa narrativa ficcional. Quanto à novela perfeita, ela não existe, porque não existe perfeição. Mas a “quase perfeita” é aquela que consegue se comunicar com o público, que entretém, emociona e, ao mesmo tempo, consegue introduzir o espectador no universo sublime da arte.

Duca: Acho sim que a novela vai ter que ser mais curta, mais ágil, interativa, com personagens menos maniqueístas. Mas a essência do folhetim deve permanecer. Quando a novela perfeita, eu só consigo me lembrar daquela música do Gil: “...a perfeição é uma meta, defendida pelo goleiro , que joga na seleção, e eu não sou Pelé nem nada, se muito for, eu sou um Tostão. Fazer um gol nessa partida não é fácil, meu irmão...” Emocionando e entretendo já tá muito bom!

“Cama de Gato” pode ser considerada como uma “prova de fogo” no intuito de avaliar a carreira de vocês duas na Globo? Tiveram algum receio de que o projeto não tivesse os resultados desejados pela empresa? (Wesley)



Thelma: Claro que, como nosso primeiro projeto original, a “Cama” acabou sendo um aval pra gente. Mas eu sempre confiei muito nessa história, porque ela estava calcado numa base humana, existencial forte e verdadeira. Nós duas tínhamos o que dizer e acreditávamos nisso. E eu não ficava pensando nos resultados, mas no processo. Quando eu trabalho, procuro me concentrar no que estou fazendo. Se vc faz o melhor que pode, vc precisa confiar e ir em frente, com entusiasmo e sem medo. Senão, melhor nem se meter a escrever a sinopse.

Duca: Claro que sempre dá um friozinho na barriga. Novela é um jogo. Por mais que você confie no projeto, há sempre o imponderável. E se você ficar pensando muito no que pode não dar certo, não consegue seguir adiante. Tem que ter uma história boa na mão, que tenha força, fôlego, verdade, e tocar o barco, com coragem, da maneira mais honesta possível, dando o seu melhor.

Vocês têm projetos para escrever em outros formatos como minisséries, especiais e seriados? (Wesley)

Thelma: Aos montes... rs

Vocês são noveleiras? Se, sim, quais as suas favoritas? Na opinião de vocês o que o gênero “Telenovela” representa em nosso país? (Vitor)

Thelma: Sou noveleira de carteirinha, desde que me entendo por gente. As favoritas são Beto Rockfeller, Roque Santeiro, Saramandaia, Irmãos Coragem, Pecado Capital, Dancing Days, Vale Tudo, Guerra dos Sexos... Ai, as minhas favoritas são tantas, que eu ficaria aqui o dia todo elencando... A novela de televisão é um gênero que está tão incorporado ao nosso universo, que é quase um patrimônio nacional. É um importante meio de informação e entretenimento para a população. E é uma expressão do imaginário popular brasileiro.

Duca: É isso aí! A Thelma disse tudo. Eu só acrescentaria que a telenovela brasileira é um gênero único no mundo. Ninguém faz telenovela como a gente. Eu também sou muito noveleira. Minhas favoritas são todas essas que a Thelma citou mais Gabriela, O Feijão e o Sonho, Top Model, Rainha da sucata, Nina, Bebê a Bordo, Uga-Uga.... Ah! São tantas...! Não dá pra falar de todas aqui.

Que dicas e conselhos dariam a jovens que aspiram a trabalhar na TV?(Vitor)

Thelma: Acho que a primeira coisa é ler muito, estudar e se preparar. E buscar uma avaliação imparcial de outros sobre sua real capacidade e talento. Não adianta a pessoa se achar um gênio. É necessário que haja o reconhecimento dos outros. A melhor maneira é fazer oficinas, cursos.

Duca: Ler, ver, ouvir, viver. Estar antenado às oportunidades de cursos e oficinas. Perseverança e uma boa dose de sorte também ajudam. No mais, é saber deixar o ego em casa na hora de ouvir as críticas. Televisão é um trabalhado de equipe. Todo mundo contribui, o diretor, o colaborador, o ator, o produtor... É importante saber ouvir e incorporar as boas idéias.
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Thelma Guedes por Duca Rachid (Vitor) 
 
DUCA - Ah, a Thelma é minha melhor amiga. Minha parceira e agora minha comadre também, pois acabou de batizar minha filha. Eu tenho a maior admiração por ela, pelo talento, pela capacidade de trabalho e também pela sua conduta ética e moral. A Thelma é muito melhor do que eu como escritora. Eu tenho que quebrar muita pedra pra chegar lá. A Thelma não, ela é uma artista de verdade. Ela tem o chamado da arte dentro dela. Tem livros maravilhosos, que deviam ser mais conhecidos.


Duca Rachid por Thelma Guedes (Vitor)

Thelma- Uma irmã gêmea univitelina que caiu do céu (rs). A melhor parceira de trabalho que eu poderia ter (aliás, a única possível, porque eu sou uma chata de galocha e só ela pra me agüentar...). A Duca é um escritora com E maiúsculo: talentosa, iluminada, brilhante, entusiasmada, incansável. Eu tenho uma imensa admiração por ela. E o que a faz ser maior e melhor é justamente a simplicidade, a humildade, o desapego. Confesso que eu tenho muito o que aprender com ela. Mas um dia eu chego lá!
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Meninas, obrigado pela simpatia e disponibilidade. Mais sucesso ainda na carreira das duas!


Agradecimento mais que especial: Wesley Vieira
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sexta-feira, 9 de julho de 2010

O dia em que Gloria Pires parou o Rio.



Glória Pires entre Edu Nassife e Fábio Fabrício Fabretti, autores de seu livro.


“Aprendi com meu pai a não precisar levantar o queixo para ser respeitada”. Essa frase, presente já na última página de “40 anos de Gloria”, livro lançado com pompa e circunstância essa semana no Rio de Janeiro, com presença maciça da classe artírtica e também do público, talvez sintetize e una o que Gloria Pires representa na vida e na arte: um exemplo (mesmo!) de talento, humildade e respeito. Devorei o excelente livro de Eduardo Nassife e Fábio Fabricio Fabretti em menos de 24 horas e ainda estou em total estado de graça e verdadeiramente emocionado ao poder ver mais de perto e conhecer em detalhes uma trajetória de vida e de carreira tão vitoriosa e brilhante quanto a dela. Gloria realmente obteve respeito sem precisar se impor: de forma doce e espontânea. Ao mesmo tempo em que é diva absoluta de nossas novelas, seu comportamento é totalmente paradoxal a esse título. Ela é quase uma anti-diva. Uma verdadeira estrela sem jamais precisar de estrelismos para ser quem é.

O lançamento do livro, como já disse, foi um sucesso. Fila quilométrica desde o início, horas de espera e Gloria permanecia lá, sorridente e simpática com todos, mesmo que por alguns segundos, já que o grande número de pessoas que desejavam estar com ela era enorme. Prova maior que essa do quanto essa atriz é querida, respeitada e admirada não há. E sua biografia até então é realmente apaixonante. Mais do que um exemplo de uma carreira vitoriosa que todos nós conhecemos, também temos a oportunidade de ver o quão penosa, massacrante e trabalhosa é a rotina de um ator. O glamour passa longe muitas vezes. O relato dos bastidores de todas as produções das quais ela participou é imperdível. Nassife e Fabretti nos transportam para os cenários, as situações e os casos vividos por Gloria como se estivéssemos ali também. E o livro não poupa os detalhes negativos, os problemas, contratempos e até desentendimentos de Gloria. Mas mesmo nos desentendimentos, percebe-se o quão ela é elegante e profissional.





Maria de Fátima, Maria Moura, Ruth, Raquel, Nice, Ana Terra, Rosália, Zuca... essas e muitas outras mulheres tão diferentes e tão desafiadoras estão ali. Difícil mesmo (pra não dizer impossível) imaginarmos outra atriz capaz de fazer tantas pessoas com tantas diferenças entre si e de forma tão brilhante. O livro nos dá essa real dimensão. Na vida pessoal, o que fica claro é o amor e a importância que Gloria dá à família, tanto aos pais, avós e irmãos, quanto ao marido e filhos. A admiração e o carinho que a classe artística tem com ela ficam claros na parte final do livro através dos depoimentos. Poucas pessoas conseguiriam reunir um time tão talentoso que falasse tão bem, admirasse, reverenciasse e as tomasse como exemplo. Por essas e outras, Gloria Pires é única. Por mais banal que soe, não há palavra mais adequada para descrevê-la: um exemplo.

O melão deseja ainda mais sucesso (se é que isso é possível) e que venham muitos outros 40 anos de Gloria. Parabéns aos autores pelo livro, que além de leitura envolvente, é ricamente ilustrado com fotos raras. Para os fãs, imperdível. Fica a sensação de que nossa dramaturgia não seria tão rica se não existisse nela o nome Gloria Pires. Orgulho!

Gloria recebendo o cartão do melão de minhas mãos, enquanto Edu Nassife autografava meu livro
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